Poesia & Poesia
Poesia bilingue - italiano e portoghese brasiliano.
Vera Lúcia de Oliveira (Maccherani)
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"A porta range no fim do corredor"
Vera Lúcia de Oliveira, 1983
 
Para meu pai (in memoriam) e minha mãe,
meus primeiros poetas.

A porta range 
no fim do corredor

Vera Lúcia de Oliveira

Raccolta vincitrice del
“I° Concurso de Poesia Scortecci 1982", São Paulo

Scortecci, San Paolo, 1983
15x21 cm, 40 pag
disegno di copertina di Adelmo Almeida dos Santos

Prefazione di Anderson Braga Horta
©
Vera Lúcia de Oliveira

Seleção de poemas / Selezione di poesie:
A poesia dói dentro de mim / La poesia si lacera
O silêncio... / Il silenzio ...
Tardes de aula / Pomeriggi di scuola
Canção de ninar / Ninna nanna

Recensioni

 

"Força estranha" - Caetano Veloso

 

A poesia dói dentro de mim

A poesia dói dentro de mim
como quando meu pai podava a parreira

eu ia vendo caírem
as folhas
e ia vendo caírem
as folhas

e ninguém sabia
como os ramos derramavam sons
dolorosos

La poesia si lacera

La poesia dentro di me si lacera
come quando mio padre potava la vite

io vedevo cadere
le foglie
e vedevo cadere
le foglie

e nessuno sapeva
come i rami stillavano suoni
dolorosi

O silêncio desta noite
rói de solidão
toda poesia

não comporei nenhum verso solene
não comporei

Il silenzio di questa notte
rode di solitudine
ogni poesia

non comporrò nessun verso solenne
non comporrò

Tardes de aula

Tardes de aula
em que se esvaía a pulsação
o universo
se incorporava
a um pedaço de giz

Ao professor
e sua fleuma de ensinar eu dava o óbvio

Às vezes se passavam séculos até
sem que eu desse por mim

Pomeriggi di scuola

Pomeriggi di scuola
in cui la pulsazione svaniva
l'universo
si incorporava
in un pezzetto di gesso

all'insegnante
e alla sua flemma io davo l'ovvio

a volte anche secoli passavano
senza che io mi ritrovassi

Canção de ninar

O frio da manhã dando ferrovias
na alma

vontade de amanhecer
na china

cansaço das horas cinzas
cansaço de amanhecer dentro dos teus olhos
cinzas
as estações...
o frio da manhã com úlceras
palpitações
viço derramado no silêncio ácido

ô jeito de ninar triste!

Ninna nanna

Il freddo del mattino crea ferrovie
nell'anima

voglia di svegliarmi
in Cina

nausea delle ore grigie
nausea di svegliarmi dentro i tuoi occhi
grigi
le stazioni...
il freddo del mattino con ulcere
palpitazioni
rigoglio riversato nel silenzio acido

maniera triste di cullare!


(Assis, SP, Brasil,1986 - la casa di Vera)

 

Prefácio

VERA LÚCIA DE OLIVEIRA dá ao público, já na estréia, um livro denso, de linguagem moderna, desataviada, dotada de um poder de expressão que parece provir da força com que vive a autora o clima de sua poesia.
São poemas curtos, ern versos livres, quase sempre curtos também. Embora tenha cursado Letras, a poetisa resiste a todo aparato na construção poemática, feita com boa economia de meios, nenhuma retórica ("Não comporei nenhum verso solene"...).
Não se confunda sua simplicidade com falta de recursos. Basta uma leitura para afastar a possibilidade desse equívoco. Ao contrário, revela a autora profundo conhecimento do fenômeno poético - por exemplo, ao confessar, alhures, o moto de sua poesia e assinalar o fosso entre a fonte do poema e sua concretização em palavra: "... falar é uma necessidade. Assim nasce minha poesia. Desse conflito entre silêncio e voz, palavra que irrompe com força. Toda vez que escrevo, porém, destruo algo, sinto que destruo."
A poesia de Vera Lúcia gira em torno de coisas simples, e ela mesma no-lo diz:

Não transparência
Não metafísica
Coisas
Coisas arrulhando-se
em mim

Seu fulcro é o cotidiano, com sua carga de rotina e tédio e a constatação de que "triste é o mundo". Com seu carregamento de angustia:

o tédio a liberdade a náusea
são dentes escovados
inúteis

(Nada do quê impede o eclodir, aqui e ali, de sôfrega alegria: "o azul do céu/ Ah! a pena/ de ter somente dois olhos".) Seu tema é, pois, o dia-a-dia, o terra-a-terra, a solidão, "a vida tão parecida com a morte" que, na verdade, "não merece registro". Mas o registro é feito, e aí está, vivo e válido, como um carinho triste estendido a suicidas, prostitutas, bichos, coisas; versos que lembram Bandeira, que citam Drummond e, não obstante, reservam para a feiçäo geral traços próprios da autora.
Sinto-me honrado em saudar-Ihe estas primícias.

Anderson Braga Horta, 1983

Recensioni: Carlos Drummond de Andrade, 1982; Moacyr Felix, 1982; Oswaldo França Junior, 1982; Cacaso (Antônio Carlos Brito), "Poesia feminina entre o mosaico lírico e um mundo sem musas", Folha de São Paulo, Brasile, 1/7/1984.

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(by Claudio Maccherani )